Papas que foram depostos: quando a Igreja disse “basta!”
Ao longo da história da Igreja Católica, poucos episódios foram tão dramáticos quanto a deposição de papas. Por escândalos, heresias ou disputas políticas, alguns pontífices foram oficialmente removidos do cargo. Neste artigo, exploramos os casos mais emblemáticos em que a própria Igreja — ou o poder secular — interveio para afastar o líder máximo do catolicismo.
A complexa autoridade papal
O papa é considerado infalível em questões de fé e moral segundo a doutrina católica, mas a história mostra que nem todos os pontífices estavam à altura dessa responsabilidade. Em momentos extremos, a Igreja ou forças externas decidiram remover papas do cargo para preservar a integridade da instituição.
João XII – O escândalo que levou à deposição
João XII foi um dos primeiros papas a ser deposto oficialmente. Em 963, o imperador Otão I convocou um sínodo em Roma que o destituiu após acusações de assassinato, adultério e traição. Embora tenha retornado ao cargo por um breve período, sua reputação e liderança foram irreversivelmente manchadas.
Bento IX – Vendeu o papado e foi deposto
Bento IX é o único papa a ter exercido o cargo três vezes, sendo deposto duas vezes. Em um dos episódios mais bizarros da história papal, ele chegou a vender o trono papal ao seu padrinho, Gregório VI. A confusão entre três papas simultâneos levou à intervenção do imperador Henrique III, que promoveu um concílio para pôr fim ao escândalo.
Gregório VI – Deposto apesar das boas intenções
Gregório VI assumiu o papado após comprar o cargo de Bento IX com a intenção de restaurar a ordem. No entanto, a simonia (compra de cargos eclesiásticos) era um pecado grave. Ele foi deposto em 1046 no Concílio de Sutri, apesar de ser considerado moralmente íntegro. O episódio mostrou que até boas intenções não justificam práticas corruptas.
Silvério – Vítima de intrigas políticas
Silvério, papa entre 536 e 537, foi deposto pela imperatriz bizantina Teodora após recusar-se a reabilitar um bispo condenado por heresia. Foi exilado e substituído por Vigílio. Este caso reflete como o papado, no período antigo, era frequentemente manipulado por interesses imperiais e políticos.
O Concílio de Constança e a deposição em massa
Durante o Grande Cisma do Ocidente (1378–1417), havia três papas simultâneos reivindicando o trono de Pedro. O Concílio de Constança (1414–1418) depôs dois deles — João XXIII (o antipapa) e Bento XIII — e aceitou a renúncia de Gregório XII. O concílio foi fundamental para restaurar a unidade da Igreja.
Deposição como último recurso
A deposição de um papa é um ato extremo e raríssimo. Ao longo da história, a Igreja sempre preferiu resolver disputas internamente ou esperar pela morte natural do pontífice. Contudo, quando o escândalo ou a crise ameaçava a própria existência da instituição, a decisão de remover o papa era inevitável.