A Páscoa como um tempo de reflexão sobre o verdadeiro sentido da liberdade.
A Páscoa, com a narrativa da libertação do povo hebreu da escravidão no Egito e a subsequente libertação da humanidade do pecado e da morte através da ressurreição de Jesus Cristo, oferece um momento crucial para refletirmos sobre o verdadeiro significado da liberdade. Transcendendo a mera ausência de grilhões físicos, a Páscoa nos convida a contemplar a liberdade espiritual, a autonomia da alma e a libertação das correntes internas que nos aprisionam, como o medo, o egoísmo e o pecado.
A palavra “Páscoa” em sua origem hebraica, “Pessach”, carrega o significado de “passagem”. Originalmente, para o povo judeu, a Páscoa celebrava a passagem da escravidão no Egito para a liberdade na Terra Prometida, um evento marcante de libertação física e nacional. No entanto, com a vinda de Jesus Cristo, a Páscoa ganha uma nova e mais profunda dimensão, apontando para uma libertação ainda maior: a libertação espiritual da escravidão do pecado e da morte através de sua paixão, morte e ressurreição.
Nesse contexto cristão, a Páscoa nos convida a uma reflexão que vai além da liberdade física ou política. Ela nos direciona para o âmago da nossa existência, questionando o que verdadeiramente nos aprisiona. Quais são as correntes invisíveis que limitam nossa capacidade de amar, de perdoar, de viver plenamente e de nos conectar com o divino? A Páscoa nos oferece um espelho para examinarmos as prisões internas que construímos ou nas quais nos deixamos cair.
A escravidão no Egito, lembrada na Páscoa judaica, pode ser vista como uma metáfora para as diversas formas de escravidão que enfrentamos em nossas vidas: a escravidão aos vícios, ao materialismo, ao orgulho, ao medo do julgamento alheio, à culpa paralisante e ao ciclo vicioso do pecado. Essas correntes invisíveis nos impedem de experimentar a verdadeira liberdade que Cristo conquistou para nós na cruz e selou com a sua ressurreição.
A ressurreição de Jesus é o anúncio triunfante de que essas correntes podem ser quebradas. Assim como Cristo passou da morte para a vida, também nós podemos passar da escravidão para a liberdade espiritual. Essa liberdade não é a permissão para fazer o que quisermos, mas sim a capacidade de viver em plena comunhão com Deus e com o nosso verdadeiro eu, libertos das amarras do pecado e do egoísmo.
A verdadeira liberdade, à luz da Páscoa, reside na nossa capacidade de escolher o amor em vez do ódio, o perdão em vez do ressentimento, a generosidade em vez da ganância, a verdade em vez da mentira e a vida em vez da morte. É a liberdade de vivermos de acordo com os princípios do Evangelho, guiados pelo Espírito Santo e transformados pelo poder da ressurreição.
A Páscoa nos convida a um exame de consciência profundo: estamos realmente vivendo em liberdade, ou ainda somos escravos de padrões de comportamento destrutivos, de apegos desmedidos ou de medos paralisantes? A celebração pascal nos oferece a esperança de um novo êxodo, uma nova passagem da escuridão para a luz, da prisão para a liberdade, através da fé em Cristo ressuscitado.
Portanto, que este tempo pascal seja para nós uma oportunidade de refletirmos sobre o verdadeiro sentido da liberdade. Que possamos identificar as correntes que nos aprisionam e buscar, com a ajuda de Deus, a libertação que Cristo nos oferece. Que a alegria da ressurreição nos impulsione a vivermos em plena liberdade espiritual, amando a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos, testemunhando a libertação que a Páscoa nos proporciona.
Em Recife, neste tempo de reflexão pascal, que possamos todos nós, à luz da ressurreição, buscar a verdadeira liberdade que transcende as limitações terrenas e nos conduz a uma vida plena e abundante em Cristo Jesus. Que a mensagem da Páscoa nos inspire a romper com as correntes do pecado e a viver na liberdade dos filhos de Deus.