Os livros apócrifos: o que são e por que ficaram de fora?

Os livros apócrifos são um conjunto de textos que, embora sejam frequentemente encontrados em algumas versões da Bíblia, não foram incluídos no Cânon oficial da maioria das tradições protestantes e do Judaísmo. No entanto, essas obras são aceitas como parte da Escritura Sagrada por algumas tradições cristãs, como a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. A palavra “apócrifo” tem origem no grego “apókruphos”, que significa “escondido” ou “oculto”. Embora o termo tenha sido usado inicialmente para descrever livros que eram considerados secretos ou ocultos, na atualidade ele se refere a textos religiosos que não foram aceitos oficialmente como canônicos por todas as igrejas.

1. O que são os livros apócrifos?

Os livros apócrifos são textos antigos que tratam de temas religiosos, históricos e de sabedoria, mas que não foram incluídos no Cânon hebraico da Bíblia nem no Cânon protestante. Eles foram escritos entre os séculos III a.C. e I d.C. e, portanto, estão associados ao período intertestamentário, que é o intervalo de tempo entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Muitos desses textos são encontrados na versão Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento), que foi amplamente utilizada pelos primeiros cristãos.

2. Quais livros são considerados apócrifos?

Os livros apócrifos mais conhecidos, principalmente na tradição católica e ortodoxa, incluem:

  • Tobias (ou Tobias)
  • Judite
  • Sabedoria de Salomão
  • Eclesiástico (ou Sirácida)
  • Baruc
  • 1 Macabeus
  • 2 Macabeus
  • Adições ao Livro de Ester (textos adicionais que não estão na versão hebraica do livro)
  • Adições ao Livro de Daniel (como a história de Susana e Bel e o Dragão)

Esses livros são encontrados no Antigo Testamento das Bíblias católica e ortodoxa, mas são excluídos das versões protestantes e judaicas.

3. Por que os livros apócrifos ficaram de fora do Cânon Protestante?

A exclusão dos livros apócrifos da Bíblia protestante ocorre por uma combinação de fatores históricos, teológicos e canônicos. Durante o Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja Católica Romana declarou oficialmente que os apócrifos faziam parte do Cânon Sagrado, devido ao seu uso nas tradições cristãs e no culto litúrgico. Porém, a Reforma Protestante (século XVI), liderada por figuras como Martinho Lutero, rejeitou esses livros devido a vários motivos:

  • Origem e autoria questionáveis: Muitos dos livros apócrifos foram escritos em grego, e não em hebraico, o que levantava dúvidas sobre sua autenticidade em relação aos textos originais do Antigo Testamento.
  • Ausência de aceitação universal: Nem todos os cristãos do período antigo aceitaram os apócrifos como parte da Bíblia. Alguns líderes e grupos cristãos da Antiguidade (como o Conselho de Jamnia, no século I d.C.) não os consideraram inspirados, considerando-os como textos secundários ou de valor menor.
  • Doutrinas incompatíveis: Alguns dos livros apócrifos contêm doutrinas e ensinamentos que não se alinham completamente com os princípios teológicos protestantes. Por exemplo, o livro de 2 Macabeus fala sobre o conceito de oração pelos mortos, uma prática que a Igreja Protestante não endossa.

4. Qual é a diferença entre apócrifos e deuterocanônicos?

Os livros apócrifos, na tradição católica e ortodoxa, são frequentemente chamados de deuterocanônicos, o que significa “segundo cânon”. A diferença principal entre os apócrifos e os deuterocanônicos é que os primeiros são excluídos do Cânon protestante e, por isso, não são considerados inspirados por essa tradição, enquanto os últimos são aceitos como canônicos pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa.

  • Deuterocanônicos: Estes livros fazem parte do Cânon Sagrado para católicos e ortodoxos, como Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão e Macabeus.
  • Apócrifos: Termo mais amplo, usado para se referir aos livros que não foram incluídos no Cânon protestante, podendo englobar os deuterocanônicos.

5. O que dizem os livros apócrifos?

Embora os livros apócrifos não façam parte do Cânon protestante, muitos deles são ricos em ensinamentos religiosos, sabedoria e história. Alguns deles abordam temas como:

  • Tobias: A história de um jovem chamado Tobias e sua jornada para resgatar a fortuna de seu pai, juntamente com o auxílio de um anjo disfarçado. O livro enfatiza fé, oração e a providência divina.
  • Judite: Conta a história de uma mulher judia corajosa que salva sua cidade ao matar o líder de um exército inimigo. Este livro transmite temas de e coragem.
  • Sabedoria de Salomão: Um livro de sabedoria que reflete sobre a justiça divina, a imortalidade da alma e as virtudes da sabedoria.
  • Macabeus: Relata a história da revolta dos judeus contra os selêucidas e a purificação do templo de Jerusalém, o que é celebrado durante o Hanukkah.

6. O impacto dos livros apócrifos

Embora os livros apócrifos não sejam considerados parte do Cânon Sagrado para todas as denominações, eles ainda desempenham um papel importante em muitas tradições cristãs, especialmente no catolicismo e na igreja ortodoxa. Muitas das ideias contidas nesses livros influenciaram a teologia medieval, e passagens como as encontradas em Sabedoria de Salomão ou Macabeus continuam a ser lidas nas liturgias dessas igrejas.

7. Conclusão: O que podemos aprender com os livros apócrifos?

Apesar de não serem considerados canônicos em todas as tradições, os livros apócrifos fornecem insights valiosos sobre a história e os pensamentos religiosos da época do Segundo Templo, além de ajudar a entender o contexto histórico do cristianismo primitivo. Eles oferecem uma perspectiva única sobre temas como fé, sabedoria, oração e a luta por justiça, que têm grande valor espiritual e moral, independentemente de sua inclusão no cânon.

Em última análise, os livros apócrifos são um testemunho de uma rica tradição literária e teológica, refletindo o desenvolvimento do pensamento religioso entre os judeus e cristãos do período intertestamentário.