O papel da liderança feminina em Êxodo, com destaque para Miriam.
O livro de Êxodo, embora centrado na liderança masculina de Moisés, não silencia o papel significativo que as mulheres desempenharam na história da libertação e formação de Israel. A liderança feminina em Êxodo se manifesta de maneiras diversas, desde a proteção da vida até a liderança profética e a contribuição para a construção do santuário.
Um dos primeiros exemplos notáveis de liderança feminina é o das parteiras Sifrá e Puá (Êxodo 1:15-22). Diante do decreto cruel do faraó para matar todos os meninos hebreus recém-nascidos, essas mulheres temeram a Deus mais do que ao rei e desobedeceram à ordem, preservando a vida de muitos bebês. Sua coragem e sua fé as colocam como figuras de resistência e de defesa da vida em um momento crítico da história de Israel. Sua liderança se manifestou na desobediência civil em prol de um bem maior, demonstrando uma lealdade superior a Deus.
Outra figura feminina crucial nos primeiros capítulos é Joquebede, a mãe de Moisés (Êxodo 2:1-10). Sua liderança se expressou na sua engenhosa estratégia para salvar a vida de seu filho, escondendo-o e, posteriormente, colocando-o em um cesto no rio Nilo. Sua fé e sua determinação em proteger seu filho foram fundamentais para o plano de Deus para libertar Israel. Embora sua liderança não fosse pública, sua ação decisiva nos bastidores moldou o futuro da nação.
Contudo, a figura feminina de liderança mais proeminente em Êxodo é Míriam, irmã de Moisés e Arão. Ela é explicitamente chamada de profetisa (Êxodo 15:20), um título que denota sua capacidade de ouvir e comunicar a mensagem de Deus. Sua liderança se manifesta em momentos cruciais da narrativa:
- Proteção de Moisés na infância: Míriam desempenhou um papel fundamental na preservação da vida de seu irmão quando bebê, vigiando o cesto no rio Nilo e, com sabedoria, oferecendo sua própria mãe como ama ao faraó (Êxodo 2:4-10). Sua iniciativa e cuidado foram essenciais para a sobrevivência do futuro líder de Israel.
- Liderança no louvor e na celebração: Após a miraculosa travessia do Mar Vermelho e a derrota do exército egípcio, Míriam liderou as mulheres de Israel em um cântico de louvor e dança ao Senhor (Êxodo 15:20-21). Empunhando um tamborim, ela conduziu a celebração da vitória divina, demonstrando sua liderança espiritual e sua capacidade de inspirar o povo na adoração. Este momento a estabelece como uma líder litúrgica e uma porta-voz da gratidão do povo.
- Desafio à autoridade de Moisés (Números 12:1-15): Em um episódio posterior, narrado no livro de Números, Míriam, juntamente com Arão, questionou a autoridade de Moisés. Embora este evento tenha resultado em um julgamento divino sobre Míriam, ele também revela sua posição de influência e sua percepção de ter um papel de liderança semelhante ao de seus irmãos (“Porventura o Senhor tem falado somente por Moisés? Não tem falado também por nós?” – Números 12:2). Este incidente, apesar de negativo em suas consequências para Míriam, sublinha seu status como uma figura de liderança reconhecida dentro da comunidade.
Além de Míriam, outras mulheres em Êxodo demonstram habilidades e iniciativa que contribuem para a comunidade. As mulheres habilidosas participaram ativamente da confecção dos tecidos e da construção do Tabernáculo, demonstrando seus talentos e sua dedicação à obra de Deus (Êxodo 35:25-26). Sua contribuição foi essencial para a criação do espaço de adoração e da manifestação da presença divina no meio do povo.
Em suma, o livro de Êxodo, embora focado na liderança masculina, apresenta exemplos significativos de liderança feminina. Mulheres como Sifrá, Puá, Joquebede e, principalmente, Míriam, desempenharam papéis cruciais na preservação da vida, na liderança espiritual, no louvor e na contribuição para a comunidade. Míriam, como profetisa e líder de louvor, destaca-se como uma figura proeminente de liderança feminina em Êxodo, exercendo influência espiritual e inspirando o povo de Israel em momentos de celebração e reconhecimento do poder de Deus. Suas histórias demonstram que a liderança no plano de Deus não se limita a um gênero, mas se manifesta através da fé, da coragem e da disposição de servir ao propósito divino.