O Cordeiro Pascal na Tradição Judaica.

O cordeiro pascal desempenha um papel central e simbólico na tradição da Páscoa judaica (Pessach). Este artigo explora o significado profundo do sacrifício do cordeiro, conforme ordenado por Deus no livro de Êxodo, como um ato crucial para a libertação dos israelitas da décima praga e sua subsequente fuga da escravidão no Egito. O cordeiro pascal, com seu sangue marcando as portas e sua carne sendo consumida, tornou-se um memorial perpétuo da misericórdia divina e da redenção do povo judeu.

No coração da celebração da Páscoa judaica (Pessach) reside a figura essencial do cordeiro pascal, um símbolo carregado de história, significado e profunda conexão com a libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. Sua importância remonta às instruções divinas dadas a Moisés na véspera da décima e última praga, um evento crucial que culminaria no Êxodo.

Conforme narrado no livro de Êxodo (capítulo 12), Deus ordenou que cada família israelita sacrificasse um cordeiro macho de um ano, sem defeito. O sangue desse cordeiro deveria ser passado nos umbrais e nas ombreiras das portas de suas casas como um sinal. Este sinal seria reconhecido pelo anjo da morte, que “passaria por cima” (Pessach) dessas residências, poupando os primogênitos israelitas da praga que assolaria os egípcios.

O sacrifício do cordeiro pascal não era apenas um ato de obediência, mas também um sinal de fé e confiança na promessa de libertação feita por Deus. Ao cumprirem essa instrução, os israelitas demonstraram sua crença na proteção divina em meio ao juízo que cairia sobre seus opressores. O sangue do cordeiro, portanto, tornou-se um símbolo de salvação e de distinção entre o povo escolhido e seus escravizadores.

Além do sangue, a carne do cordeiro pascal também tinha um significado ritual. Deus ordenou que o cordeiro fosse assado inteiro e consumido pela família reunida, juntamente com pão ázimo (matzá) e ervas amargas (maror). A ordem de consumir o cordeiro em comunidade reforçava a união do povo e a partilha da experiência da libertação. A proibição de deixar sobrar qualquer parte do cordeiro até a manhã seguinte sublinhava a urgência da partida iminente do Egito.

Ao longo das gerações, o sacrifício do cordeiro pascal tornou-se um elemento central da celebração da Páscoa judaica, um memorial vívido da misericórdia de Deus e do preço da liberdade. Durante o Seder, a refeição ritual que inaugura a Páscoa, a história do Êxodo é recontada, e embora o sacrifício literal do cordeiro não seja mais praticado desde a destruição do Templo em Jerusalém, sua memória e simbolismo permanecem profundamente enraizados na tradição.

No Seder moderno, um osso de cordeiro (zeroa) é frequentemente colocado no prato cerimonial como um símbolo do cordeiro pascal. Sua presença serve como um lembrete constante do sacrifício original e da libertação que ele possibilitou. A ausência do sacrifício real é, para alguns, um anseio pela restauração do Templo e pela completa observância da lei bíblica.

O cordeiro pascal na tradição judaica transcende um simples ritual religioso; ele personifica a redenção, a proteção divina e a identidade do povo judeu como aqueles que foram libertados da escravidão pela mão poderosa de Deus. Sua memória, perpetuada através do Seder e de outras tradições pascais, continua a inspirar e a ensinar lições atemporais sobre a liberdade, a fé e a importância de recordar o passado para construir o futuro.