O chamado de Moisés: lições sobre obediência em Êxodo 3.

O capítulo 3 do livro de Êxodo narra um dos encontros mais significativos da história bíblica: o chamado de Moisés por Deus na sarça ardente. Este relato não é apenas um evento histórico, mas uma rica fonte de lições espirituais, especialmente no que tange à natureza da obediência a Deus. A hesitação inicial de Moisés, as perguntas que ele levanta e a subsequente aceitação da missão divina revelam aspectos cruciais sobre o processo de obedecer ao chamado de Deus em nossas próprias vidas.

O cenário do chamado é emblemático: Moisés, um hebreu criado na corte egípcia, vivia agora como pastor no deserto, longe do poder e da influência que outrora conhecera. Sua vida havia tomado um rumo inesperado após o assassinato de um egípcio e sua fuga para Midiã. É nesse contexto de aparente insignificância que Deus se manifesta de forma extraordinária, através de uma sarça que ardia em chamas, mas não se consumia. A atenção de Moisés é atraída por esse fenômeno incomum, marcando o início de um encontro transformador.

O chamado de Deus é claro e direto: libertar o povo de Israel da escravidão no Egito e conduzi-lo à Terra Prometida (Êxodo 3:7-10). No entanto, a reação imediata de Moisés não é de entusiasmo ou prontidão, mas de hesitação e questionamento. Ele levanta uma série de objeções, revelando suas inseguranças e medos. Sua primeira pergunta, “Quem sou eu para ir ao faraó e tirar do Egito os israelitas?” (Êxodo 3:11), demonstra um sentimento de inadequação diante da magnitude da tarefa.

A resposta de Deus à insegurança de Moisés é fundamental: “Eu estarei com você” (Êxodo 3:12). Essa promessa da presença divina é a base essencial para a obediência. Deus não chama para tarefas que não podemos realizar com Sua ajuda. A garantia de Sua companhia constante é o alicerce da confiança necessária para superar nossos medos e inseguranças diante do chamado.

Moisés levanta uma segunda objeção, preocupado com a credibilidade de sua mensagem perante os israelitas: “Se eu for aos israelitas e lhes disser: ‘O Deus dos seus antepassados me enviou a vocês’, e eles me perguntarem: ‘Qual é o nome dele?’, que lhes direi?” (Êxodo 3:13). 1 A resposta de Deus revela Seu nome eterno e Sua identidade como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó (Êxodo 3:14-15). Essa revelação do nome divino não apenas fornece a Moisés uma credencial, mas também enfatiza a continuidade do plano de Deus através das gerações e Sua fidelidade às Suas promessas.  

Apesar dessas garantias, Moisés ainda hesita, expressando sua preocupação com a incredulidade do povo: “E se eles não me acreditarem nem derem ouvidos à minha voz, mas disserem: ‘O Senhor não lhe apareceu’?” (Êxodo 4:1). Deus, com paciência e poder, concede a Moisés sinais miraculosos – a vara que se transforma em serpente e a mão leprosa que é curada – para autenticar sua missão e convencer o povo de que o Senhor realmente o havia enviado (Êxodo 4:2-9).

A última objeção de Moisés revela uma profunda insegurança pessoal: “Ah, Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem no passado nem agora que falaste ao teu servo. Sou lento no falar e na língua!” (Êxodo 4:10). Deus, embora reconheça a limitação de Moisés, reafirma Sua soberania sobre a capacidade humana e promete prover ajuda: “Quem deu boca ao homem? Quem o fez mudo ou surdo, com vista ou cego? Não fui eu, o Senhor? Agora vá; eu o ajudarei a falar e lhe ensinarei o que dizer” (Êxodo 4:11-12). Essa resposta enfatiza que a suficiência para a obra de Deus reside Nele, não em nossas habilidades naturais.

Finalmente, Moisés cede ao chamado, embora com um último pedido para que outra pessoa seja enviada em seu lugar (Êxodo 4:13). Deus, embora demonstrando certa indignação, atende parcialmente ao pedido de Moisés, designando seu irmão Arão como seu porta-voz (Êxodo 4:14-17). Essa concessão divina, no entanto, não diminui a responsabilidade de Moisés de obedecer ao chamado original.

O chamado de Moisés em Êxodo 3 oferece lições poderosas sobre obediência. Vemos a importância de confrontar nossas inseguranças com a promessa da presença de Deus, de buscar confirmação e entendimento sobre a natureza do chamado, e de confiar na suficiência divina em nossas limitações. A hesitação de Moisés é relatable à nossa própria resistência diante de tarefas que parecem grandes demais. No entanto, a paciência e o poder de Deus em responder às suas objeções nos encorajam a dar o passo de fé e a obedecer, sabendo que Ele estará conosco em cada etapa do caminho, aqui em Recife e em qualquer lugar que Seu chamado nos levar.