A “Passagem” da Morte para a Vida em Ambas as Tradições.
Tanto a Páscoa judaica (Pessach) quanto a Páscoa cristã celebram uma “passagem” fundamental da morte para a vida, embora em contextos e com significados distintos, mas interconectados. A Páscoa judaica comemora a libertação física da escravidão e da morte no Egito, enquanto a Páscoa cristã celebra a ressurreição de Jesus Cristo, marcando a vitória sobre a morte espiritual e oferecendo a promessa da vida eterna. Este artigo explora como o tema da “passagem” se manifesta em ambas as tradições, revelando uma jornada da escuridão para a luz e da mortalidade para a imortalidade.
O cerne da celebração da Páscoa, tanto em sua tradição judaica ancestral quanto em sua subsequente interpretação cristã, reside no conceito fundamental de uma “passagem” transformadora da morte para a vida. Embora os contextos históricos e os focos teológicos divirjam, ambas as celebrações ecoam a jornada da escuridão para a luz, do sofrimento para a liberdade e, em última análise, da mortalidade para a promessa de uma vida renovada.
Na tradição judaica, a Páscoa (Pessach) comemora a passagem literal da morte para a vida experimentada pelo povo de Israel durante o Êxodo. A décima praga, a morte dos primogênitos do Egito, poupou aqueles lares israelitas marcados com o sangue do cordeiro pascal. Essa “passagem” da morte, possibilitada pela intervenção divina e pela obediência às instruções de Deus, marcou o momento crucial que permitiu a libertação da escravidão e o nascimento de Israel como nação livre.
A narrativa do Êxodo, relembrada anualmente durante o Seder de Pessach, revive a angústia da escravidão, a esperança da libertação e o milagre da “passagem” através do Mar Vermelho, da servidão para a liberdade. A própria palavra “Pessach” significa “passar por cima”, referindo-se ao ato de Deus de poupar os lares israelitas da morte. Assim, a Páscoa judaica celebra uma libertação tangível da morte física e da opressão terrena, um evento fundador que moldou a identidade e a fé do povo judeu.
Com o advento do cristianismo, a Páscoa assume um novo e profundo significado, centrado na figura de Jesus Cristo. A Última Ceia, celebrada durante a Páscoa judaica, a crucificação na Sexta-feira Santa e, culminando, a ressurreição no Domingo de Páscoa, são interpretadas como a derradeira “passagem” da morte para a vida. Para os cristãos, Jesus, o Cordeiro de Deus, oferece a passagem da morte espiritual causada pelo pecado para a vida eterna através de seu sacrifício e vitória sobre a sepultura.
A morte de Jesus na cruz é vista como o sacrifício expiatório que paga o preço do pecado da humanidade, libertando os crentes da condenação eterna. Sua ressurreição ao terceiro dia é a prova da sua vitória sobre a morte, demonstrando que o poder da sepultura foi quebrado e que a vida triunfou. Assim, a Páscoa cristã celebra a “passagem” da morte espiritual para a vida eterna em Cristo, oferecendo esperança e renovação para todos os que creem.
Embora os contextos e os focos difiram, ambas as tradições compartilham o tema central da “passagem” da escuridão para a luz e da morte para a vida. A libertação física do Egito na Páscoa judaica prefigura a libertação espiritual do pecado e da morte na Páscoa cristã. Jesus, ao celebrar a Páscoa judaica com seus discípulos antes de sua paixão, estabelece uma conexão intrínseca entre as duas celebrações, cumprindo e transcendendo o significado da Páscoa ancestral.
A Páscoa cristã não anula a importância da Páscoa judaica, mas a vê como parte do plano redentor de Deus, culminando na obra de Jesus Cristo. A libertação física da escravidão no Egito torna-se um símbolo da libertação espiritual da escravidão do pecado. A passagem da morte física para a vida terrena aponta para a passagem da morte espiritual para a vida eterna em Cristo.
Em ambas as tradições, a celebração da Páscoa é um tempo de profunda reflexão, gratidão e renovação. Os judeus relembram a fidelidade de Deus em libertá-los da opressão, enquanto os cristãos celebram o amor incondicional de Deus manifestado na morte e ressurreição de Jesus, que oferece a passagem para uma nova vida.
Em conclusão, a “passagem” da morte para a vida é um tema unificador que ressoa tanto na Páscoa judaica quanto na Páscoa cristã. Seja a libertação física da escravidão no Egito ou a vitória espiritual sobre o pecado e a morte através de Jesus Cristo, ambas as celebrações apontam para a esperança, a redenção e o poder transformador de Deus, marcando jornadas da escuridão para a luz e da mortalidade para a promessa da vida.