A Ortodoxia e o Ecumenismo
A relação da Igreja Ortodoxa com o ecumenismo é complexa e multifacetada, marcada por um desejo de unidade cristã, mas também por cautela na preservação de sua identidade teológica e doutrinal.
Princípios e Participação:
A Igreja Ortodoxa, desde o início do movimento ecumênico no século XX, tem participado ativamente de organizações como o Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Essa participação é motivada pela convicção de que a divisão entre os cristãos é contrária à vontade de Cristo (“para que todos sejam um”, João 17:21). O objetivo principal para a Ortodoxia no diálogo ecumênico é o restabelecimento da unidade na fé e na vida sacramental, baseada na tradição da Igreja indivisa dos primeiros séculos.
Ênfase na Tradição e na Unidade Doutrinal:
A Ortodoxia aborda o ecumenismo com a firme convicção de que ela preservou a fé cristã em sua plenitude e pureza, tal como transmitida pelos Apóstolos e pelos Padres da Igreja. Para os ortodoxos, a unidade cristã genuína só pode ser alcançada através da convergência de outras tradições cristãs com essa fé apostólica. Isso implica um diálogo teológico profundo e honesto sobre questões doutrinais que historicamente dividiram o cristianismo.
Desafios e Tensões:
A participação ortodoxa no movimento ecumênico nem sempre é isenta de desafios e tensões. Algumas alas dentro da Ortodoxia expressam preocupações de que o diálogo possa levar a um relativismo teológico ou a concessões doutrinais que comprometam a integridade da fé ortodoxa. A questão do proselitismo por parte de outras denominações cristãs em territórios tradicionalmente ortodoxos também é uma fonte de atrito.
Diálogo Bilateral:
Além da participação em organismos multilaterais como o CMI, a Igreja Ortodoxa tem se engajado em diálogos bilaterais com diversas tradições cristãs, incluindo a Igreja Católica Romana, as Igrejas Anglicana e as Igrejas Protestantes. Esses diálogos visam abordar questões específicas de doutrina, história e prática que separam as diferentes confissões.
O Concílio Vaticano II:
O Concílio Vaticano II (1962-1965) da Igreja Católica Romana foi um evento significativo no cenário ecumênico e gerou diversas reações no mundo ortodoxo. Embora algumas das aberturas do Concílio em relação a outras tradições cristãs tenham sido vistas positivamente como um passo na direção do diálogo e da reconciliação, certas doutrinas católicas, como o Filioque e o primado papal tal como definido no Vaticano I, continuam a ser pontos de divergência importantes para a Ortodoxia.
Conclusão:
A Ortodoxia abraça o ideal ecumênico da unidade cristã, fundamentado no amor de Cristo e no desejo de superar as divisões históricas. No entanto, essa busca pela unidade é inseparável da sua firme convicção de possuir a plenitude da verdade cristã. O diálogo ecumênico para a Ortodoxia é, portanto, um caminho de testemunho da sua fé e um convite para que outros se unam a essa tradição apostólica, visando a restauração da plena comunhão na fé e nos sacramentos. A participação ortodoxa no movimento ecumênico continua sendo um processo dinâmico, moldado tanto pelo anseio pela unidade quanto pela responsabilidade de preservar a herança teológica e espiritual da Igreja.