A Igreja Ortodoxa na Etiópia

A Igreja Ortodoxa na Etiópia, oficialmente conhecida como Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo, possui uma das histórias mais antigas e singulares dentro do cristianismo. Suas raízes remontam ao século IV d.C., tornando a Etiópia uma das primeiras nações cristãs do mundo, quando o rei Ezana de Axum se converteu ao cristianismo, estabelecendo-o como religião estatal. A tradição etíope liga sua evangelização ao diácono Filipe, que batizou um oficial etíope a caminho de Gaza, conforme narrado em Atos 8.

Historicamente, a Igreja Etíope manteve laços estreitos com a Igreja Ortodoxa Copta do Egito, sendo liderada por um bispo (Abuna) nomeado pelo Patriarca de Alexandria até 1959, quando conquistou sua autocefalia, tornando-se independente com seu próprio Patriarca.

Teologicamente, a Igreja Ortodoxa Etíope pertence à comunhão das Igrejas Ortodoxas Orientais Não-Calcedonianas. Essa tradição remonta às controvérsias cristológicas do século V, particularmente ao Concílio de Calcedônia (451 d.C.), cujas definições sobre a natureza de Cristo foram rejeitadas por estas igrejas. A Igreja Etíope, assim como as outras igrejas não-calcedonianas, adota uma cristologia miafisista, enfatizando a união inseparável das naturezas divina e humana em Cristo em uma única “natureza encarnada” (Tewahedo, que significa “unido” em língua ge’ez, reflete essa ênfase).

A liturgia da Igreja Ortodoxa Etíope se desenvolveu de forma particular, incorporando elementos de tradições locais e judaicas, possivelmente devido à antiga presença de comunidades judaicas na Etiópia. A língua litúrgica tradicional é o ge’ez, embora o amárico seja cada vez mais utilizado. A música sacra e a arte religiosa etíopes possuem características distintas e ricas. A Igreja também possui uma forte tradição monástica, com numerosos mosteiros espalhados pelo país.

Atualmente, a Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo é a maior denominação cristã da Etiópia, com dezenas de milhões de fiéis, representando uma parcela significativa da população etíope. Ela desempenha um papel crucial na vida social e cultural do país, mantendo uma forte identidade e tradições únicas dentro do cristianismo ortodoxo oriental não-calcedoniano.