A relação entre corpo e espírito em 1 Coríntios 6:12-20.
O apóstolo Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios, dedica um espaço significativo para tratar de questões práticas que ameaçavam a santidade e o testemunho da igreja. No capítulo 6, versículos 12 a 20, ele aborda especificamente a relação entre o corpo e o espírito, especialmente no contexto da imoralidade sexual. Sua argumentação revela uma compreensão profunda da unidade do ser humano em Cristo e as implicações dessa união para a conduta cristã.
Paulo inicia essa seção citando um provável slogan popular entre os coríntios: “Todas as coisas me são lícitas”. Embora essa afirmação possa ter sido interpretada como uma declaração de liberdade cristã, Paulo imediatamente a qualifica com dois princípios importantes: “mas nem todas as coisas convêm” e “mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”. Aqui, ele estabelece que a liberdade em Cristo não é uma licença para a libertinagem, mas deve ser exercida com discernimento e autodomínio, visando o que é edificante e evitando a escravidão a qualquer desejo carnal.
Em seguida, Paulo trata de outro argumento comum na época, relacionado aos apetites físicos: “Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a fornicação, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo.” Ele desvincula a natureza transitória das necessidades fisiológicas da dignidade e do propósito do corpo humano. Enquanto o estômago e o alimento terão seu fim, o corpo tem um destino eterno e uma conexão especial com o Senhor.
O apóstolo então estabelece um elo vital entre o corpo dos crentes e Cristo: “Deus, pelo seu poder, ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará. Vocês não sabem que os seus corpos são, na realidade, membros de Cristo? Assim, poderia eu ser membro de Cristo e unir-me a uma prostituta? De maneira nenhuma!” Aqui, Paulo argumenta que, através da união com Cristo, nossos corpos se tornam parte do Seu próprio corpo ressurreto. Profanar o corpo com a imoralidade sexual é, portanto, uma afronta à nossa união com o Senhor.
Paulo reforça essa ideia com a afirmação: “Vocês não sabem que aquele que se une a uma prostituta é um corpo com ela? Porque está escrito: ‘Os dois se tornarão uma só carne’. Entretanto, se vocês se unem ao Senhor, vocês se tornam um espírito com ele.” Essa comparação drástica ilustra a profundidade da união espiritual com Cristo, que deve influenciar e governar a forma como usamos nossos corpos. A união com uma prostituta resulta em uma união carnal profana, enquanto a união com o Senhor resulta em uma união espiritual santificadora.
A partir dessa compreensão, Paulo faz uma exortação direta: “Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete são cometidos fora do corpo, mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo.” Ele destaca a singularidade do pecado sexual, que não apenas viola os mandamentos de Deus, mas também profana o templo do Espírito Santo que habita em nós.
O argumento culmina com uma declaração poderosa sobre a habitação do Espírito Santo e a nossa pertença a Deus: “Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de vocês mesmos? Porque vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês.” Paulo lembra aos coríntios que seus corpos não lhes pertencem, pois foram redimidos pelo sacrifício de Cristo. Essa redenção abrange tanto o espírito quanto o corpo, e ambos devem ser usados para glorificar a Deus.
Em suma, a passagem de 1 Coríntios 6:12-20 revela uma relação intrínseca e inseparável entre o corpo e o espírito no contexto da fé cristã. Nossos corpos são membros de Cristo, templos do Espírito Santo e propriedade de Deus, adquiridos por um alto preço. Essa compreensão transforma a maneira como devemos encarar nossos corpos e nossa sexualidade, chamando-nos a uma vida de santidade e a usar cada parte do nosso ser para a glória de Deus, aqui em Recife e em todo lugar.