A correção das divisões na Igreja de Corinto segundo Paulo.

A Primeira Carta de Paulo aos Coríntios dedica uma atenção significativa ao problema das divisões que afligiam a jovem igreja naquela cidade cosmopolita. Longe de serem meras divergências de opinião, essas facções ameaçavam a própria unidade e o testemunho da comunidade cristã. Paulo, com sua autoridade apostólica e profundo cuidado pastoral, aborda essa questão de maneira incisiva e multifacetada, buscando restaurar a harmonia e recentralizar a fé em Cristo.

A raiz das divisões em Corinto, conforme Paulo expõe logo no início da carta (1 Coríntios 1:10-17), residia na lealdade dos membros a diferentes líderes apostólicos e pregadores. Alguns se identificavam como seguidores de Paulo, outros de Apolo, Cefas (Pedro) ou até mesmo um grupo que se auto-intitulava “de Cristo”, talvez numa tentativa de se mostrarem mais espirituais, mas que paradoxalmente também criava uma facção. Essa postura revelava uma imaturidade espiritual e uma compreensão equivocada do papel dos servos de Deus na igreja.

A primeira estratégia de Paulo para corrigir essas divisões é um apelo veemente à unidade, feito “pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 1:10). Ele exorta os coríntios a “dizerem todos a mesma coisa” e a serem “unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo propósito”. Essa unidade não implica em uniformidade de opiniões em todos os assuntos, mas sim em uma concordância fundamental sobre a mensagem central do evangelho e a primazia de Cristo como o único Senhor e Salvador.

Paulo então questiona retoricamente a própria base dessas divisões: “Acaso Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Coríntios 1:13). Essas perguntas poderosas apontam para a centralidade exclusiva de Cristo na salvação e na identidade cristã. O sacrifício de Cristo na cruz é o fundamento da fé, e o batismo sela a união dos crentes com Ele, não com qualquer líder humano. Ao desviar a lealdade de Cristo para os seus servos, os coríntios estavam, de certa forma, diminuindo a importância da obra redentora.

Para desmistificar a figura dos líderes e colocá-los em sua devida perspectiva, Paulo enfatiza que eles são apenas colaboradores na obra de Deus. Em 1 Coríntios 3:5-9, ele usa a analogia da lavoura, onde ele plantou, Apolo regou, mas é Deus quem dá o crescimento. Cada um receberá sua recompensa de acordo com o seu trabalho, mas ambos servem ao mesmo Senhor e têm o mesmo propósito: edificar a igreja de Cristo. Essa perspectiva humilha os líderes e direciona a glória para Deus.

Outra tática de Paulo é confrontar a mentalidade de vanglória e sabedoria humana que alimentava essas divisões. Em 1 Coríntios 3:1-4, ele repreende os coríntios por sua carnalidade e imaturidade espiritual, evidenciada pelas contendas e ciúmes. Ele os lembra que, apesar de terem recebido ensinamentos, ainda agiam “segundo os homens”, presos a uma lógica terrena de competição e exaltação de figuras humanas. A verdadeira sabedoria reside em reconhecer a centralidade da cruz de Cristo, que para o mundo é loucura, mas para os que creem é o poder e a sabedoria de Deus (1 Coríntios 1:18-31).

Em suma, a correção das divisões na Igreja de Corinto por Paulo envolveu um apelo apaixonado à unidade em Cristo, a desmistificação da figura dos líderes, a ênfase na centralidade da cruz e a confrontação da imaturidade espiritual e da sabedoria humana. Sua mensagem ressoa através dos séculos, lembrando a igreja de todas as épocas que a unidade, fundamentada em Cristo e permeada pelo amor, é essencial para o seu testemunho e para a manifestação do Reino de Deus na Terra, aqui em Recife e em todo o mundo.