A Ortodoxia na Rússia: História e Atualidade
A Ortodoxia Russa, com uma história rica e complexa que se estende por mais de um milênio, desempenhou um papel fundamental na formação da identidade cultural, política e espiritual da Rússia. Desde a sua adoção como religião estatal na Rus’ de Kiev em 988 até o seu ressurgimento no período pós-soviético, a Igreja Ortodoxa Russa passou por períodos de grande influência, perseguição e renascimento. Compreender a sua trajetória histórica e a sua situação atual é essencial para entender a Rússia contemporânea.
A Conversão da Rus’ de Kiev e os Primeiros Séculos: A história da Ortodoxia na Rússia começa em 988, com a conversão do Príncipe Vladimir de Kiev ao cristianismo ortodoxo, influenciado por missionários do Império Bizantino. Este evento marcou a cristianização da Rus’ de Kiev, o estado precursor da Rússia moderna, Ucrânia e Bielorrússia, estabelecendo a Igreja Ortodoxa como a fé dominante por quase mil anos. Nos primeiros séculos, a Igreja Russa estava sob a jurisdição do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, com metropolitas liderando a hierarquia local.
A Ascensão de Moscou e a Autocefalia: Com a ascensão do Principado de Moscou como centro de poder na Rússia, a Igreja Russa gradualmente buscou maior autonomia. Em 1448, o clero russo elegeu seu próprio metropolita sem a aprovação de Constantinopla, marcando uma autocefalia de facto. Em 1589, este status foi formalmente reconhecido pelo Patriarca Ecumênico de Constantinopla, elevando o Metropolita de Moscou ao status de Patriarca, o quinto na ordem de honra após os patriarcas de Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém.
O Período Sinodal e a Subordinação ao Estado: Um ponto de inflexão significativo na história da Ortodoxia Russa ocorreu no início do século XVIII com as reformas de Pedro, o Grande. Após a morte do Patriarca Adrian em 1700, Pedro impediu a eleição de um novo patriarca e, em 1721, aboliu o patriarcado, substituindo-o pelo Santo Sínodo Governante. Este órgão, composto por clérigos e leigos nomeados pelo czar, efetivamente subordinou a Igreja ao controle do estado, um período conhecido como Período Sinodal que durou até a Revolução Russa de 1917.
A Revolução Russa e a Perseguição Soviética: A Revolução de 1917 trouxe consigo uma violenta perseguição à Igreja Ortodoxa Russa pelo regime bolchevique ateu. Igrejas foram destruídas, propriedades confiscadas, clérigos presos, exilados e executados, e a prática religiosa foi severamente reprimida. Apesar da intensa perseguição, a fé ortodoxa persistiu clandestinamente entre muitos russos.
O Ressurgimento Durante a Segunda Guerra Mundial e o Período Soviético Tardio: Durante a Segunda Guerra Mundial, sob a ameaça da invasão alemã, Joseph Stalin permitiu uma limitada reabertura de igrejas e a eleição de um novo patriarca em 1943, buscando o apoio patriótico da população. No entanto, a Igreja permaneceu sob estrito controle estatal durante o restante do período soviético, com a liberdade religiosa severamente restringida.
O Renascimento Pós-Soviético: O colapso da União Soviética em 1991 marcou um período de renascimento para a Igreja Ortodoxa Russa. A liberdade religiosa tornou-se uma realidade, e a Igreja experimentou um significativo aumento no número de fiéis, igrejas e mosteiros. A Igreja Ortodoxa Russa passou a desempenhar um papel cada vez mais visível na vida pública e na identidade nacional russa.
A Ortodoxia Russa na Atualidade: Hoje, a Ortodoxia Russa é a maior denominação religiosa do país, com dezenas de milhões de aderentes. A Igreja mantém uma relação complexa com o estado russo, frequentemente vista como um importante pilar da identidade cultural e dos valores tradicionais russos. O Patriarca de Moscou, atualmente Cirilo, é uma figura influente na sociedade russa. No entanto, a Igreja também enfrenta desafios como a secularização, a diversidade religiosa crescente e questões relacionadas à sua autonomia em relação ao estado.
Conclusão: A história da Ortodoxia na Rússia é intrinsecamente ligada à história da própria nação. De suas raízes bizantinas à sua complexa relação com o estado ao longo dos séculos, a Igreja Ortodoxa Russa moldou profundamente a identidade russa e continua a ser uma força significativa na Rússia contemporânea, influenciando a cultura, a política e a espiritualidade de milhões de pessoas.