A Páscoa Cristã Ortodoxa como Cumprimento da Páscoa Judaica

Na teologia ortodoxa, a Páscoa cristã (Pascha) é vista não como uma mera substituição da Páscoa judaica (Pessach), mas como o seu cumprimento pleno e definitivo. Os eventos da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo são entendidos como a realização das promessas e dos tipos prefigurados na antiga celebração da libertação do povo hebreu da escravidão no Egito. Cristo é o verdadeiro Cordeiro Pascal, cujo sacrifício liberta a humanidade da escravidão do pecado e da morte, conduzindo-a à Terra Prometida da vida eterna.

Para a Igreja Ortodoxa, a celebração da Páscoa cristã não é um evento isolado, desconectado de suas raízes históricas e espirituais. Pelo contrário, ela é profundamente entrelaçada com a Páscoa judaica, sendo vista como o seu cumprimento pleno e definitivo, a realização das sombras e prefigurações encontradas no Antigo Testamento. Os eventos centrais da nossa redenção em Cristo Jesus encontram seu contexto e significado mais profundo à luz da libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, celebrada em Pessach.

A própria Última Ceia, durante a qual Jesus instituiu a Eucaristia, ocorreu durante a celebração da Páscoa judaica. Ao compartilhar o pão ázimo e o vinho com seus discípulos, Jesus deu um novo significado aos símbolos tradicionais daquela refeição. O pão passou a representar o seu corpo, oferecido em sacrifício, e o vinho, o seu sangue, derramado para a instituição da Nova Aliança, selada não com o sangue de cordeiros, mas com o sangue do próprio Filho de Deus.

Na teologia ortodoxa, Jesus Cristo é identificado como o verdadeiro Cordeiro Pascal, cujo sacrifício perfeito e único substitui os sacrifícios de animais da antiga lei. Assim como o sangue do cordeiro pascal protegeu os primogênitos israelitas da morte (Êxodo 12), o sangue de Cristo, derramado na cruz, oferece proteção e redenção a toda a humanidade da escravidão do pecado e da morte espiritual.

A libertação do povo hebreu da escravidão física no Egito prefigurava a libertação espiritual da humanidade da escravidão do pecado e do poder das trevas, realizada por Cristo através de sua morte e ressurreição. A passagem pelo Mar Vermelho, que levou os israelitas à liberdade, é vista como um tipo do nosso batismo, através do qual morremos para o pecado e ressuscitamos para uma nova vida em Cristo.

A jornada do povo hebreu pelo deserto em direção à Terra Prometida também encontra seu cumprimento na jornada espiritual dos cristãos em direção ao Reino dos Céus, guiados pela fé em Cristo ressuscitado. A Páscoa cristã celebra, portanto, a nossa passagem da morte para a vida, da escravidão para a liberdade em Cristo.

Em Recife, durante a celebração da Páscoa Ortodoxa, a consciência dessa profunda conexão com a Páscoa judaica enriquece o significado da festa. Os fiéis reconhecem em Cristo o cumprimento das esperanças e promessas do Antigo Testamento, o Libertador que nos conduz à verdadeira Terra Prometida da vida eterna em comunhão com Deus.

Em suma, a Páscoa Ortodoxa não anula a Páscoa judaica, mas a eleva e a completa. Cristo é o elo que une as duas celebrações, revelando o plano redentor de Deus desde a antiga aliança até a nova aliança selada em seu sangue. A Páscoa cristã é a celebração da nossa libertação final, da nossa passagem para a vida eterna através do sacrifício e da ressurreição do verdadeiro Cordeiro Pascal.